Por Ramalho Leite
A queda do Império Otomano e a fundação da república turca teve como líder Mustafá Kemal Ataruk, militar graduado, revolucionário e primeiro presidente da Turquia. Antes, porém, ganhou renome com sua atuação na primeira guerra mundial. Lutou ao lado dos alemães e foi derrotado pelas forças aliadas. A partir de então, passou a liderar a Guerra da Independência Turca que culminou com a proclamação da república em substituição ao Império Otomano. Na sua juventude, por volta de 1907, promovido a capitão do exército, Mustafá passou a integrar o Comitê para a União e o Progresso, cujos integrantes eram chamados de “jovens tur cos”. A chamada “revolução dos jovens turcos” alcançou algum poder e chegaria finalmente à República sob a liderança de Kemal. A notícia da atividade kemaliana ganhou o mundo. No Brasil, Benjamim Constant defendia a tese do soldado-cidadão: antes de ser soldado, o militar seria um cidadão a serviço do regime republicano. Pregava a extinção das forças armadas que seriam reduzidas a atividades policiais vinculadas à ordem pública. Na oposição a ess a tese, a partir da Primeira Guerra, surgiram militares nacionalistas e defensores da profissionalização do exército. Até um jornal editavam: “A Defesa Nacional”. A essa geração de militares intelectualizados foi denominada de “jovens turcos”. Na Parahyba, não foram os militares, mas uma plêiade de políticos seguidores de Epitácio Pessoa que se apropriaram do nome e das idéias dos militares turcos e nacionais. Marcaram época e alcançaram o poder com o nome de “jovens turcos”.
Segundo Cunha Pedrosa, deputado, senador e ministro do TCU, os “jovens turcos” paraibanos reuniram-se pela primeira vez em 1916, na Fazenda Roma, em Bananeiras, residência de Solon de Lucena. O mentor do grupo era o coronel Antonio Pessoa, irmão de Epitácio, que deixara o governo da Parahyba nas mãos de Solon, então presidente da Assembléia. Esses jovens, a maioria egressa dos bancos da faculdade de direito do Recife, sonhava em suceder a geração que aportara na política paraibana a partir de 1880 e alcançaria a Primeira Republica. Os “jovens turcos” eram adeptos da pregação epitacista que buscava o desenvolvimento do estado, via integração do nosso interior produtivo com o mercado litorâneo. Essa união visava uniformizar o crescimento econômico que seria estimulado, sem dúvida, pela influência política de Epitácio no cenário nacional.Do outro lado estavam os “guelas”, assim chamados por sua preferência pela ocupação dos melhores cargos públicos.
Os “jovens turcos”, liderados por Solon de Lucena, era ainda integrado por Álvaro de Carvalho, que se agregara a Solon desde quando fizeram parte do corpo docente do Instituto Bananeirense. Chegou à presidência do Estado com a morte de João Pessoa. José Américo incorporou-se ao grupo a partir de 1917. Lá estavam Celso Mariz, Demócrito de Almeida, Walfredo Guedes Pereira, o grande prefeito da Capital na gestão de Solon, João Suassuna, A ntonio Pessoa Filho e outros menos conhecidos. Há quem defina os “jovens turcos” como um grupo de doutores do litoral que se opunha aos coronéis do sertão. Para Fernando Nóbrega, porém, essa hipótese se desmerece a partir da identificação que faz dos jovens turcos: José Parente, do Piancó; coronel José Pereira, de Princesa; coronel Targino Pereira, de Araruna; Benedito Queiroga, de Pombal; Solon de Lucena, pelo litoral e brejo; Celso Mariz, pelo sertão.Essa funalização expressa pelo ex-secretário de Suassuna sugere mais uma adesão dos coronéis ao grupo, quando este passou a dominar a política paraibana, a começar do governo de Solon de Lucena até Álvaro de Carvalho, passando pelo João, que era mais Pessoa do que turco. José Américo só chegaria ao poder após a revolução de 1930 e por eleição, na memorável campanha de 1950.
Os “jovens turcos” começaram a ocupar cadeiras no governo da Parahyba desde a gestão de Camilo de Holanda mas, hostilizados, revolveram abandonar o barco, deixando o governo sem deixar Epitácio. Demócrito foi Chefe de Polícia, Solon, secretário de governo e Antonio Pessoa Filho, prefeito da capital. Menosprezados como “parentes de Epitácio”, foram atormentados por Camilo até que pedissem demissão. Camilo passou a preferir seus próprios sobrinhos aos sobrinhos de Epitácio, não sem receber deste várias reprimendas.
Para Epitácio, Camilo no governo estaria “procedendo como não procederia um adversário.Basta notar que o seu governo só considera adversários os parentes e amigos mais íntimos, meus ou de minha família.Pelo menos só a eles trata como tais. Valfredo, Semeão,(dos Santos Leal) José Rodrigues (de Carvalho),Heráclito (chefe da oposição), para não citar senão os adversários, são cumulados de todas as deferências e favores…enquanto Solon, Pessoa Filho, Suassuna, Carlos Espínola, para indicar também só quatro amigos, são desc onsiderados ostensivamente” (centenária carta de Epitácio a Camilo em 6 abril de 1917).
Os “jovens turcos” Antonio Pessoa, Solon de Lucena, João Suassuna e Álvaro de Carvalho ocuparam a cadeira presidencial parahybana. Mustafá Kamel jamais imaginou que os seus “jovens turcos” teriam seu exemplo copiado nos confins do brejo paraibano, a partir da Fazenda Roma, na distante Bananeiras, onde morava Sólon de Lucena – o maior de todos os seus filhos.