PAÍS EM CRISE: Cássio diz que “só o voto cura uma democracia doente”

Dia seguinte à maior manifestação de ruas da história do país, que reuniu entre 6 e 7 milhões de brasileiros contra o governo Dilma, o líder do PSDB no Senado, Cássio Cunha Lima (PB) ocupou a tribuna, na tarde desta segunda-feira (14), para defender que “só o voto cura uma democracia doente”.

“Precisamos encontrar uma saída. Geralmente, quando se fala no tema, apontam-se três alternativas: a renúncia, o impeachment e as novas eleições com a cassação da chapa pelo TSE” – disse o líder, que se pôs a analisar as possibilidades:

“A renúncia, naturalmente, é ato unilateral de vontade, portanto, só depende da presidente da República. O impeachment será, talvez, o caminho mais rápido porque, com tudo o que aconteceu ontem [as manifestações de domingo], com o julgamento dos embargos na próxima quarta-feira (16) pelo Supremo Tribunal Federal, não restará à Câmara dos Deputados outra alternativa senão a instalação da comissão processante, para que, com rapidez e celeridade, se possa fazer o juízo de admissibilidade, enviando para o Senado o processo que terá o nosso julgamento”.

A melhor saída

Mas, para Cássio, a melhor saída é cassar a chapa e convocar novas eleições, que ocorreriam simultaneamente às eleições municipais. “Será o nosso povo, na sua diversidade de pensamento, na sua pluralidade política, que vai escolher e fazer nascer um governo que tenha a legitimidade e a credibilidade mínima para consertar as coisas que estão cada vez piores no nosso país”, defendeu.

O raciocínio do senador é cristalino:

“No momento em que você tem uma candidatura que abusa de poder político, que abusa de poder econômico com financiamentos ilícitos, já sobejamente comprovados, é claro que o TSE pode, perfeitamente, à luz da legislação, cassar a chapa e proporcionar aquela que é a melhor solução para o problema, que é a nova eleição. Com tudo o que já foi publicado pela imprensa através das delações premiadas, onde já se constatou de maneira irrefutável, de forma cabal, que dinheiro do caixa 2, dinheiro da corrupção e do petrolão financiaram a campanha da presidente Dilma Roussef, é claro que a eleição de 2014 está maculada pelo desequilíbrio de meios. A justiça eleitoral existe exatamente para preservar a vontade do eleitor, fazer respeitar a vontade soberana do eleitor, mas também para equilibrar os meios da disputa. Com novas eleições, entrega-se o poder de escolha a quem é o verdadeiro detentor do poder, que se manifestou no ronco das ruas ontem, que é o povo brasileiro” – afirmou.

Alerta

O senador, porém, fez um alerta: “É óbvio que antes precisamos tomar uma providência que compete à Câmara ou quem sabe ao próprio Supremo Tribunal Federal, que é afastar o deputado Eduardo Cunha, que não tem condições, é claro, de assumir a Presidência na interinidade, como prevê a Constituição Federal”.

Casuísmo, não!

Cássio Cunha Lima também rechaçou saídas que ele considera “casuísticas”, como o semipresidencialismo ou o semiparlamentarismo:

“Nós não aceitaremos qualquer tentativa de mudança das regras do jogo, não aceitaremos qualquer tentativa de reformar a Constituição, porque isto, neste instante, seria um casuísmo que não pode ser admitido, que não pode ser, de forma nenhuma, aceito com a implantação de semipresidencialismo ou de semiparlamentarismo, para fazer, dentro do ambiente da política, um arranjo que deixe de fora a sociedade e que também não vai aceitar esse tipo de manobra” – afirmou o líder do PSDB.

“Miopia política”

O senador falou, ainda, sobre o que considera “fuga da realidade” ou “miopia política”: “Pela primeira vez, os partidos participaram da organização e do chamamento para as manifestações do dia 13, e mais de seis milhões de brasileiros saíram às ruas. Foram as maiores realizadas até aqui, sob a liderança, o comando dos movimentos de rua e do cidadão livre e independente deste país, que também teve o seu engajamento como decisivo, mas não podemos esquecer que foi a primeira vez que os partidos de oposição também participaram das mobilizações, e isso, não tenho dúvidas, contribuiu, e contribuiu muito, para o crescimento das manifestações ocorridas ontem. Portanto, dizer que a manifestação foi contra todos os políticos é de uma miopia política extraordinária ou uma inócua tentativa de fugir da realidade. É papo furado mesmo! Agora, é óbvio que ninguém, quem quer que seja, alcançaria a unanimidade numa multidão daquela, com tantos sentimentos de pluralidade ideológica e partidária como aos que assistimos” – assegurou.

João Pessoa, Campina e Patos

Para Cássio, “é muita pobreza imaginar que se está despolitizando esse movimento”: “Vou falar pela Paraíba. Fizemos na Paraíba, em João Pessoa, em Campina Grande e em Patos, o maior movimento de todos, sob o comando e a liderança dos movimentos de rua, sim, mas com a participação muito ativa dos partidos políticos, com a minha presença e com a de vários outros representantes do Estado, o que contribuiu para isso, sim. Aí vou falar sem falsa modéstia. Tenho a certeza de que, em João Pessoa e em Campina Grande, foi o chamamento que os partidos de oposição fizeram que possibilitou o crescimento expressivo das manifestações. Isso vale para o Brasil inteiro”.

Do povo e para o povo

Cássio concluiu o discurso com uma sugestão: “Quem quiser ter o mínimo de bom senso e interpretar de forma correta a manifestação avassaladora que aconteceu ontem nas ruas do Brasil não terá dificuldade de entender o recado das ruas. Do contrário, há aqueles que vão continuar tentando encontrar desculpas e justificativas para o que se constatou. É por isso que tenho insistido, e não é de hoje, é de muito tempo, que a melhor saída para esse impasse grave que o Brasil vive é respeitar a própria Constituição que, no seu art. 1º, garante que todo poder emana do povo e em seu nome deve ser exercido”.

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