Por Ramalho Leite
Os jesuítas, que chegaram à Parahyba com Martin Leitão, (o Conquistador) construíram o conjunto arquitetônico formado pelo convento, capela e escola onde hoje está situado o Palácio da Redenção, o Mausoléu de João Pessoa e a Faculdade de Direito. Era o ano de 1586 e a Companhia de Jesus, fundada por Santo Inácio de Loyola, não completara ainda meio século. O Convento era a morada dos Jesuítas, a Capela de São Gonçalo seria transformada em Igreja de Nossa Senhora da Conceição, e derrubada em 1929 para dar lugar ao jardim anexo ao Palácio onde hoje repousam os restos mortais de João Pessoa.
O chamado Palácio da Presidência, antes de receber essa denominação, hospedou Pedro II em sua única visita à Paraíba, e passou por várias reformas. A partir de 1771 tornou-se a residência oficial dos Capitães-mores, os mandatários da época. O primeiro a residir ali chamava-se Jerônimo José de Mello Castro. Pelos dois elles do Mello, deveria ser um ancestral do alagoano Collor de Mello… O coronel José Vicente de Amorim Bezerra ( esses Bezerra vêm de longe) fez a primeira reforma do conjunto, em 1850. Oito anos depois, outro governante que dá nome a movimentada rua do nosso comércio, Beaurepaire Rohan, introduziu novos melhoramentos à sua morada.Por último, para encerrar o período Imperial, foi a vez do Barão do Abiaí (1858) reformar o Palácio onde nasceria, em 1928, o dramaturgo, escritor e imortal Ariano Suassuna.
A maior e definitiva reforma do conjunto, quando desapareceu a Igreja da Conceição e surgiram dois prédios foram separados por um jardim, é obra do presidente João Pessoa iniciada em 1929.Com a morte de João Pessoa em pleno exercício do mandato de Presidente, em julho de 1930, a Paraíba foi tomada por violenta emoção, e em nome dela, mudou o nome da Capital para homenagear o morto, e a sede do governo passaria a ser denominada Palácio da Redenção.
Naquele Palácio fora iniciado a gestão de João Pessoa “que impôs de modo radical novas diretrizes políticas e administrativas ao Estado”, segundo o Decreto 143/31, assinado pelo Interventor Antenor Navarro e secundado pelos secretários Odon Bezerra,Mateus Ribeiro e João Mauricio de Medeiros. Outros considerandos justificaram o Decreto que denominava de Palácio da Redenção a sede do Governo: “…a extensão dessas reformas (diretrizes radicais de JP) se refletirá (sic) no cenário da política nacional e foi fator decisivo para a vitoria da Revolução e conseqüentemente a redenção do Brasil “ e ainda “….a denominação foi sugerida pelo povo em memorável manifestação de caráter coletivo”. E assim, “fica denominado PALÁCIO DA REDENÇÃO o antigo Palácio do Governo do Estado”, revogando-se as disposições em contrário. O Decreto é datado de 29 de julho de 1931, um ano depois da morte de João Pessoa e está inserto no livro do historiador Adauto Ramos “ Escriptos de Hontem”.
Essa é a história sobre o batismo do Palácio. Querer esquecer tudo isso para homenagear Ariano Suassuna é uma iniciativa que contraria a vontade popular manifestada através de milhares de assinaturas encaminhadas ao governo de então, com a sugestão do nome, em homenagem à Redenção do Brasil prometida pela Revolução de Trinta. Se essa proclamada Redenção ainda está por vir, essa em outra história…
Antes que me esqueça: Ariano Suassuna merece todas as homenagens da Paraíba, e recentemente o Tribunal de Contas construiu um lindíssimo Centro Cultural com o seu nome. Se pudesse ser consultado sobre essa mudança do nome do Palácio, tenho certeza, Ariano votaria contra. O autor do projeto que acrescenta o nome de Suassuna ao Palácio é um atuante parlamentar, preocupado com a estiagem e suas conseqüências na vida dos seus irmãos sertanejos. Como se vê, tem coisa mais importante para se preocupar.
PS. Na ultima coluna- Os Santos do Povo, concentrei-me nos beatos venerados no nordeste brasileiro:Padre Ibiapina, Antonio Conselheiro,Padre Cícero e o italiano Frei Damião,podendo até acrescentar o nosso Padre Zé. Todavia minha pesquisa falhou, pois já existe um santo brasileiro: Santo Antonio de Santana Galvão, o Frei Galvão, nascido na cidade paulista de Guaratinguetá. Como se vê, até para ser Santo, é mais difícil para um nordestino.