Os dados oficiais de pessoas infectadas pela covid-19 na Paraíba representam pouco mais de 2% do total de pessoas infectadas, de acordo com as estimativas do Núcleo de Operações e Inteligência em Saúde (Nois), um grupo multidisciplinar de pesquisa capitaneado pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e do qual fazem parte outras universidades, hospitais, a Fundação Oswaldo Cruz e empresas privadas.
De acordo com as estimativas do estudo, Paraíba e Pernambuco são os que menos realizam testes nos pacientes suspeitos de contaminação e, em consequência, têm a maior subnotificação de casos no Brasil. Pernambuco tem a segunda menor taxa de notificação do país, com apenas 2,4% dos casos registrados oficialmente. Pior mesmo só a Paraíba com 2,2%. A média brasileira é de 8%. O Mato Grosso do Sul e o Distrito Federal puxam a média para cima, com mais de 27% dos casos notificados.
Se considerar que, conforme mostra o site de monitoramento Worldometers, o Brasil é o 11º país com maior número de mortes e 14º em número de casos, mas ocupa apenas a 45ª posição em número absoluto de exames e testes realizados, a subnotificação fica evidente. Quando se considera a taxa de testes realizados a cada milhão de habitantes, o Brasil está no fim da lista, mais precisamente na 135ª posição. Na América do Sul, só a Guiana e a Bolívia testaram menos suas populações do que o Brasil.
Mais testes, mais efetividade
Pesquisador do Nois, Marcelo Prado concedeu entrevista por e-mail ao Marco Zero avaliando as consequências da subnotificação:
“A subnotificação é uma realidade em todos os países atingidos pela doença. No caso do Brasil, a falta de testes suficientes e a demora nos resultados têm impactado diretamente nos números oficiais. O estudo permite concluir que número de testes deve ser aumentado em todas as regiões do Brasil. Com taxas de notificação mais elevadas, será possível uma melhor avaliação da necessidade de recursos hospitalares. Outro ponto fundamental é que as políticas de isolamento de infectados poderão ser mais efetivas, ao identificar locais de maior prevalência da epidemia”.
Nesse momento, o Brasil registra 24.232 casos. Se as estimativas dos pesquisadores estiverem corretas, o número real deve estar perto de 290 mil casos. Pernambuco teria, segundo esses cálculos, pouco mais de 50 mil pessoas contaminadas. O Nois informou que mediu o percentual de subnotificação seguindo três etapas: primeiro, fez o cálculo da taxa de letalidade (Case-Fatality Ratio, ou CFR). De acordo com a orientação da OMS, essa taxa varia conforme a faixa etária do paciente.
Em seguida, calculou a CFR observada, que são os casos em que o paciente contraiu a doença, se recuperou ou faleceu, levando em conta de que há uma distribuição de probabilidade com média de 13 dias entre a hospitalização e o desfecho. Com esses dois dados, a terceira e última etapa foi verificar a diferença entre ambos: quanto maior , menor a taxa de notificação , e vice-versa.