Por Zizo Mamede
Nove em cada dez economistas e nove em cada dez jornalistas repetem os mesmos diagnósticos e as mesmas receitas para a crise econômica que atinge o Brasil desde 2014: O fato gerador da crise seria o desequilíbrio fiscal, porque o governo gasta mais do que arrecada e o remédio tem que ser amargo, com cortes nos gastos do governo e redução do tamanho do Estado brasileiro.
Essa ladainha liberal se repete à exaustão, todos os dias, em quase todas as agências de notícias, em quase todas as emissoras de TV, em quase todos os semanários, em quase todos os jornais, sites e emissoras de rádio da oligarquia midiática. É a insistência no já conhecido discurso único: a exasperação do projeto liberal, que mesmo depois da hecatombe financeira de 2007-2008 não aceita quaisquer intervenções do Estado na Economia. – É o dogma dos fundamentalistas e monoteístas do deus-mercado.
Trocando em miúdos, eles bradam diuturnamente que “a economia brasileira entrou em crise – com sete anos de atraso, diga-se de passagem – porque o governo federal está gastando mais do que arrecada”. Sim, mas gastando mais com que despesas? Com os concursos e contratação de novos servidores e os programas da agenda social: Bolsa Família, Minha Casa Minha Vida, Garantia Safra, Mais Médicos, Transposição do Rio São Francisco, REUNI (Restruturação e Expansão das Universidades Federais) e todos os demais programas que beneficiam dezenas de milhões de pessoas antes excluídas desses direitos.
O que esta cantilena quer esconder? Esconder a agenda das reformas que poderá fazer do Brasil um país menos injusto, mais desenvolvido e mais moderno. Uma reforma tributária, com destaque o imposto sobre as grandes fortunas e para o combate a sonegação e redução da carga tributária sobre o trabalho e o consumo. Uma reforma política que fortaleça os partidos programáticos e a democracia direta. Uma regulamentação da mídia, que quebre a sua oligopolização. Uma reforma fiscal, com destaque para a dívida pública, e outras mudanças que superem as estruturas arcaicas que travam o Brasil. – Essa agenda não entra em pauta!
Porque os economistas liberais e os jornalões propagam tanto que o governo federal gastou 100 bilhões a mais do que arrecadou e silenciam sobre as renúncias tributárias que no mesmo período somam cerca de 350 bilhões de reais? Por que não denunciam que o governo abriu mão de arrecadar todo esse dinheiro? O governo gastou mais ou o governo arrecadou menos do que deveria arrecadar? – Essas partidas dobradas não entram na pauta!
Por que não denunciam que mais de 40 % (quarenta por cento) do orçamento federal ano a ano são comprometidos com a dívida pública (juros, amortizações e rolagem)? Por que estes temas não entram na pauta? Por que não denunciam que quanto mais o governo sobe ou mantém os juros da economia nas alturas, mais os governo gasta com a dívida pública? Por que não dizem o quanto os credores da dívida faturam? – Essa sangria não entra na pauta!
Na agenda dos liberais a população pobre só entra em pauta se for para cortar ou reduzir direitos. Por outro lado, qualquer propósito de mudanças que signifiquem mexer nos interesses dos ricos é tratado como heresia, como bestialidade dos intervencionistas. – Mexer com os ricos não pode. Isto está sempre fora de pauta! Seria melhor derrubar o governo!