Petrobras faz novo alerta ao governo sobre risco de faltar diesel

A Petrobras já vinha alertando a Agência Nacional do Petróleo (ANP) e o Ministro das Minas e Energia (MME) há dois meses sobre o risco de faltar diesel no Brasil. Como não obteve resposta, disse uma fonte, a estatal decidiu nessa última semana enviar ofícios de forma oficial tanto para ANP quanto para o MME.

No documento, ao qual o GLOBO teve acesso, datado da última quarta-feira, a estatal diz para ANP que “há elevado risco de desabastecimento de diesel no mercado brasileiro no segundo semestre de 2022”. Uma fonte do setor lembrou que o ofício foi uma forma de exigir um posicionamento sobre o tema.

O GLOBO já vem relatando o risco ao longo da última semana. Antes de ser demitido do cargo de presidente da Petrobras, José Mauro Coelho já havia apresentado ao MME documento em que alertava para a possibilidade de falta do combustível no auge da safra de soja, se não houvesse sinalização clara de que os preços cobrados pela empresa seguirão os do mercado internacional.

A estatal cita que a guerra na Ucrânia vem gerando uma falta do produto em todo o mundo, com estoques no nível mais baixo em dez anos na Europa e Ásia. “A Petrobras manifesta a sua preocupação e propõe ao MME e ANP que, no uso de suas atribuições e competências, avaliem ações estruturadas visando à segurança do abastecimento nacional de óleo diesel no diesel no segundo semestre de 2022”, informou o ofício.

Uma fonte da alta administração da empresa lembrou ainda que a estratégia do governo é deixar o tema em segundo plano, já que se optou por mudar o comando da estatal de forma a evitar novas altas, estimulando a importação por parte de outras empresas.

Além da Guerra na Ucrânia, com menor exportação da Rússia, a estatal cita o risco de indisponibilidade de refinarias no Golfo do México por conta da temporada de furacões. Analistas lembram ainda do início da safra e aumento da demanda no segundo semestre.

A companhia destacou ainda que haverá mais parada programada nas refinarias no segundo semestre, o que impossibilita aumento de produção de diesel e gasolina no país.

Estoque passou de 30 para 38 dias

Em nota, o MME disse que os estoques de óleo diesel S10 representam 38 dias de importação. “Em outras palavras, se as importações desse combustível fossem cessadas hoje, os estoques, em conjunto com a produção nacional, seriam suficientes para suprir o país por 38 dias”, disse .

Além disso, desde o início da intensificação do monitoramento do abastecimento pelo Governo Federal, em março, a autonomia (os estoques) de óleo diesel aumentou de 30 para 38 dias em termos de dias de importação, um aumento de 26,7%.

O MME lembrou que em março criou o “Comitê Setorial de Monitoramento do Suprimento Nacional de Combustíveis e Biocombustíveis”, formado por ANP, EPE e associações representativas e agentes do setor, incluindo Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP), Associação das Distribuidoras de Combustíveis (Brasilcom), Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), Acelen e Petrobras.

Lembrou ainda que a carta da Petrobras mencionando a redução da oferta e dos estoques mundiais no segundo semestre do ano são fatos “amplamente conhecidos e monitorados pelo Comitê”.

A ANP disse novamente em nota que “vem atuando diligentemente para se antecipar a riscos ao abastecimento nacional com óleo diesel que, neste momento, acontece com regularidade”.

Disse ainda que representantes da ANP mantêm contato permanente com os agentes do setor e têm conversado com especialistas e analistas sobre o cenário mundial atual e seguem atentos ao cenário nacional e ao internacional, e a todos os fatores que podem interferir no abastecimento de diesel. “A Agência está dedicada a acompanhar a situação e a propor as medidas que se mostrarem necessárias para garantir a oferta do produto”, disse.

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