SÃO PAULO — Agentes da Polícia Federal cumprem na manhã desta terça-feira mandados em uma investigação sobre suposto caixa 2 na campanha de José Serra (PSDB-SP) ao Senado em 2014. De acordo com as investigações, o senador teria recebido R$ 5 milhões em doações eleitorais não contabilizadas.
No total, são cumpridos quatro mandados de prisão temporária e 15 mandados de busca e apreensão em São Paulo, Brasília, Itatiba (SP) e Itu (SP).
As apurações se restringem a fatos de 2014, quando o tucano ainda não tinha sido eleito senador. Um dos presos é o empresário José Seripieri Filho, fundador e ex-presidente da Qualicorp, que administra planos de saúde. Outros alvos de prisão temporária são Mino Mattos Mazzamati , Rosa Maria Garcia e Arthur Azevedo Filho. Três dos quatro mandados de prisão já foram cumpridos.
A Justiça Eleitoral determinou o bloqueio judicial de contas bancárias dos investigados. Foram cumpridos mandados no apartamento e no gabinete de Serra, em Brasília, e em endereços do senador em São Paulo. O GLOBO entrou em contato com o senador, mas até o momento não obteve resposta.
Seripieri sempre teve relações próximas com políticos. Em 2014, recebeu em seu casamento, em Bragança Paulista (SP) recebeu nomes como o então governador Geraldo Alckmin, José Serra e Gilberto Kassab, além da presidente Dilma Rousseff e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O empresário, conhecido como Júnior, também havia sido citado na delação do ex-ministro Antonio Palocci.
Ele era o proprietário do helicóperto que caiu em 2015, na Grande São Paulo, e matou cinco pessoas, entre elas Thomaz Alckmin, filho caçula do governador Geraldo Alckmin
O inquérito policial foi enviado à Justiça Eleitoral em meados de 2019, com base na delação premiada de pessoas contratadas para estruturar e operacionalizar doações eleitorais não contabilizadas a mando do empresário. No decorrer da investigação foram verificados pagamentos também por empresas de construção civil e nutrição.
A Operação Paralelo 23 foi deflagrada pelo Ministério Público de São Paulo, em conjunto com a Polícia Federal, após apurações que envolveram quebra de sigilo bancário e movimentações financeiras identificadas pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF), além das delações. Os repasses teriam sido feitos por meio de operações financeiras e societárias simuladas, uma tentativa de ocultar a origem do dinheiro. As investigações se restringem a fatos da eleição de 2014. Por estar no exercício de mandato no Senado, Serra tem direito a foro privilegiado.
Em relação aos demais investigados, a PF busca provas da atualidade da prática de crimes conexos.
Esta é a terceira fase da chamada Lava-Jato Eleitoral em São Paulo.
No início do mês, a força-tarefa da Lava-Jato em São Paulo acusou formalmente Serra e a sua filha, Verônica, de lavagem de dinheiro e apresentou denúncia à Justiça contra eles. Paralelamente, a Polícia Federal deflagrou operações de busca e apreensão em endereços relacionados ao ex-governador de São Paulo. A casa do tucano foi um dos alvos. Em nota divulgada na época, o senador disse que a operação causou “estranheza e indignação”.
A força-tarefa do Ministério Público em São Paulo, que investiga doações eleitorais não declaradas, denunciou também em abril o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e de caixa 2 eleitoral na campanha de 2014, quando o ele concorreu ao governo de São Paulo. Também foram denunciados o empresário Marcelo Odebrecht e o publicitário Duda Mendonça, que foi o responsável pela campanha. A operação teve como base as delações da Odebrecht. Nas planilhas da empreiteira, Skaf era denominado como “Kibe” e “Tabule”. Na época, Skaf se disse surpreso com a denúncia.
O ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSDB) é alvo de investigações por caixa 2 eleitoral. Ele foi indiciado pela Polícia Federal, com suspeita de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. A investigação também foi iniciada com as delações premiadas de executivos da Odebrecht, que fechou acordo com o Ministério Público Federal em 2016, durante a Operação Lava-Jato. O ex-governador afirmou que vai prestar contas e esclarecer os fatos. Os advogados dele afirmaram que o indiciamento foi precipitado e injustificável e que Alckmin sequer havia sido ouvido.