PIONEIROS DA ENERGIA

Por Ramalho Leite

Fiquei impressionado com o gigantismo da Itaipú Binacional. Uma obra de engenharia construída pelo Brasil e Paraguai, com o nosso dinheiro, e que atende a noventa por cento das necessidades dos guaranis e a vinte por cento das nossas. Desde o início da produção o Paraguai vem pagando ao Brasil, com energia, a parte do investimento que lhe caberia realizar e, não o fez por falta de recursos. Quando esse acordo vencer, nós passaremos a pagar toda a energia consumida. Isso refletirá no preço da nossa conta de luz.

A crise é grave, e passa, sem dúvida, pela queda no volume das nossas barragens, obrigando a utilização de outras fontes mais caras de produção de energia. Esse processo termina na nossa casa. Ainda bem que um programa chamado de “Baixa Renda” subsidia o consumo dos mais carentes. Na Paraíba, a principal distribuidora de energia possui cerca de um milhão e trezentos mil consumidores, dos quais, 48,6% são beneficiários do programa. Interessante notar que, enquanto o consumo residencial obteve um crescimento de 10,13% entre 2013/14, o consumo industrial caiu 1,14%, embora o comercial tenha crescido na mesma proporção. O consumo rural teve maior incremento no mesmo período. A queda do consumo industrial, segundo apurei, não é reflexo da ausência de crescimento ou diminuição da produção, mas, apenas, da compra da energia diretamente a outras fontes.

Contemplando a imensidão de Itaipú, meu pensamento viajou para Borborema e para obra pioneira de José Amâncio Ramalho que, nos idos de 1920 inaugurou uma hidrelétrica e distribuiu energia para cinco cidades. Equivocado ou mal informado, cheguei a escrever que essa fora a primeira usina de energia hidráulica do nordeste e que teria nascido em 1910. Ledo engano. Zé Amâncio, como era conhecido, pai do General que é nome de rua e de hospital, foi colega de turma de outro Zé, o Américo, na Faculdade de Direito do Recife em 1908. Adquiriu terras na então Boa Vista, depois Camucá e hoje Borborema, a partir de 1912. Não dava para em 1910 já estar inaugurando uma hidrelétrica. A usina de Borborema é a terceira do continente. Marcelo Cerqueira me tirou a dúvida.

Na verdade, a primeira hidrelétrica da América do Sul foi a Usina de Marmelos, em Juiz de Fora, Minas, que data de 1898, construída por Bernardo Mascarenhas. A segunda, é obra de Delmiro Gouveia, de 1913, e foi o alicerce para Paulo Afonso e a CHESF. Como o paraibano, o cearense Delmiro foi também pioneiro na área industrial e ousou concorrer com as famosas Linhas Correntes, de fabricação inglesa. Com a morte de Delmiro seus herdeiros foram sufocados pelo competidor estrangeiro e terminaram vendendo a fabrica de Linhas Estrela. Os ingleses que a compraram destruíram a fabrica e jogaram as maquinas nas águas do Velho Chico. Voltaram a monopolizar o mercado.

Na mesma época, Zé Amâncio instalou uma indústria de fécula de mandioca e uma beneficiadora de arroz. Era também Senhor de Engenho. Produzia rapadura. Seu engenho, ainda me lembro, ficava vizinho à casa de máquinas da produção de energia. Quando menino, esperava a sirene da fecularia tocar para correr à estação e esperar o trem. Era sinal de que ele passara pela frente da indústria de fécula.

Bananeiras, Solânea, (Moreno), Pilões, Serraria, Vila Maia e Dona Ines recebiam energia da Empresa Hidrelétrica de Borborema. Lembro seu mais ruidoso servidor: Julio Nicolau Abreu. No inverno, era encarregado de correr a linha de energia e verificar os estragos provocados pela chuva. No caminho, em cada bodega, tomava uma de cachaça, para ajudar a chegar ao seu destino. No final da linha telefonava para o patrão. Com a cabeça anuviada e a língua grossa, esquecia até o tratamento de Doutor e gritava de lá:

– Zé Amanço, tá tudo in orde nas linha. Nun caiu nem um postinho!

– Você já está embriagado, Julio? Indagava Zé Amâncio. Julio negava, mas Zé Amâncio insistia severo:

– Tá bêbado sim. Tou sentindo a catinga pelo telefone…

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