É fato que em breve teremos a graça de receber as águas do Rio São Francisco. Por todas as cidades que receberão a transposição, percebemos que o clima já mudou: Tem um sorriso diferente no rosto das pessoas que antes eram tristes e sem esperança de dias melhores, de que tudo poderia mudar. Esperança essa que vem também graças às chuvas que começam a cair e molhar o chão seco e castigado pelo longo período de estiagem, pelo qual ainda estamos passando. E eu me incluo nessa história.
Até uns poucos dias, eu mesma era uma das mais incrédulas em relação à chegada das águas do São Francisco – não que eu não quisesse acreditar, mas porque todas as análises e observações me levavam a crer que ainda teríamos que esperar um pouquinho mais até receber as águas “salvadoras”. Realmente eu não acreditava porque, até então, quase não havia mobilização política, como também a participação efetiva do Ministério Público Estadual (MPE) e menos ainda do Ministério Público Federal (MPF). Não havia quase nada nesse sentido.
No entanto, nos últimos dias recebemos um sopro de esperança como se uma nova chance de vida e de desenvolvimento surgisse – as obras da transposição ganharam um ritmo acelerado. As manchetes de todos os jornais, portais, blogs e até no ‘boca a boca’ não falam em outra coisa, senão “a que agora vai e que é chegada a hora…” Nas cidades que vão receber as águas, máquinas trabalham a todo vapor, mobilizadas por órgãos como prefeituras, câmaras, empresas, a Cagepa, a Funasa, o Governo do Estado e a própria União, para que tudo transcorra dentro de um prazo.
Observe, então, que quando um político quer aparecer, ah, meu amigo, ele aparece. Quando o político quer, ele trabalha sim. Mas haveria essa mobilização toda se não tivéssemos uma eleição presidencial batendo as portas, pergunto? Teríamos tantas visitas de ministros, senadores e deputados se no próximo ano não fôssemos obrigados a votar? Não. É simples assim, não estaríamos recebendo tanto cuidado – eles (os políticos) acreditam que povo tem memória fraca e que lembrará somente de fatos recentes, como suas visitas que causam rebuliço e movimentos em cidades pequenas e pacatas pouco acostumadas a tantos holofotes.
Para alguns políticos, a “self” feita agora, no espetáculo da chegada as águas, é a garantia de vitória certa na eleição. Só que não.
O povo de hoje não é o mesmo de ontem. A mesma tecnologia que ajuda o político a divulgar sua “self” às margens do canal da transposição, mostra ao povo que até bem pouco tempo esses mesmos que hoje aparecem com tanta frequência afirmavam que a obra era inviável. É bom lembrar, portanto, que o povo deixou de ser influenciado apenas por fatos recentes e está passando a ser conhecedor da história e que o nome de muitos desses políticos está na história como contrários à obra por diversas questões, inclusive as partidárias.
Nós já entendemos que o poder é nosso. Sim, o poder é nosso! Que do mesmo jeito que ‘empregamos’ os políticos, podemos e devemos requerer deles. Eles devem satisfação! Apenas nós, que precisamos de água, sabemos o quanto penamos, o quanto esperamos e como essa obra é importante para salvar os nossos municípios que padecem à míngua. A visita de vocês, políticos, é bem vinda, mas aproveitem e tragam em suas malas ou no bolso de seus paletós, emendas para educação, saúde, infraestrutura e cultura. Lembrem-se: não queremos só água! Nós queremos diversão, arte, saúde e educação para os nossos municípios.