QUE VENHAM OS MEXICANOS…

Por Ramalho Leite

Foi o que disse Galvão Bueno após vitória da nossa seleção.Os mexicanos vieram, enfrentaram os brasileiros e ganharam. Eu deveria escrever: que venham os cubanos…pois quero falar mesmo sobre médicos e saúde pública e não sobre o futebol canarinho, que as vezes é azulão.Pois que venham os mexicanos, espanhóis, portugueses ou cubanos, pois médicos, venham de onde vierem, é melhor do que não tê-los.

É de Alcides Carneiro, o tribuno paraibano que se dizia admirado por seus conterrâneos, mas, nunca, o suficiente para ser eleito, e terminou Ministro do Superior Tribunal Militar, com muito brilho, a frase que resume a necessidade humana de assistência à saúde: “ Hospital é uma casa que por infelicidade se procura e por felicidade se encontra”. O médico está inserido nesse contexto. Mas é preciso que ele disponha de uma estrutura adequada para fazer valer os seus conhecimentos. Daí nasceu o discurso sobre a validade do Programa Mais Médicos, nascido do grito das ruas, e captado pelos ouvidos privilegiados da nossa presidenta.

Fui do tempo em que o médico era um abnegado e quase missionário na sua tarefa de salvar vidas.Conheci um, dr. Mariano Barbosa, que era chamado para atender a toda a região do brejo e do curimataú, como único e raro servidor da medicina. Em Bananeiras, ele atendia nos fundos da Farmácia de Seu Eloi, e foi lá, por duas vezes, que “encanou” o meu braço direito.Sem radiografia, sem gesso, sem anestesia. Na base do olho e da perícia, imobilizou meu braço com palhetas de compensado, gaze, esparadrapo e um comprimido para a dor que viria mais tarde. De minha parte, na hora da dor lancinante, contemplei-o com todos os palavrões que tinha conhecimento, aí pelos meus dez anos. As vezes me esqueço qual foi o braço, pois continua perfeito como nasceu.

Nos dias de hoje o médico conversa pouco com o paciente, requisita exames e os lê alguns dias depois. O diagnóstico é amparado por informações de vários laboratórios e, às vezes, ainda sai errado. No interior, há uma guerra parecida com a dos incentivos fiscais, quando os governos concedem isenções de impostos para conquistar indústrias. Os prefeitos oferecem cada vez melhores salários e não encontra profissionais disponíveis. Se faz concurso, aparecem candidatos, mas poucos assumem o cargo. E as regras são rígidas: nas Unidades de Saúde da Família é obrigatório o cumprimento de quarenta horas semanais. Para quem tem mais de um emprego, e médico pode ter dois, não pode ultrapassar sessenta horas de serviço. Fica difícil, mesmo trazendo cubanos que vão trabalhar pela feira mandada por Fidel.

Saúde é um direito de todos e dever do Estado. O estado federal transfere essa responsabilidade para o município, manda um terço do dinheiro necessário para que um PSF funcione e o prefeito que se vire para resolver os problemas de estrutura, equipamentos, insumos, medicamentos e pessoal indispensável ao funcionamento da unidade. Sem dúvida que me refiro ao Programa Saúde da Família, objeto principal do Programa Mais Médico.

Como se pode observar, o interior precisa de mais médicos, mas o poder central, precisa dotar as unidades de saúde de equipamentos necessários. O simples ajutório em dinheiro não resolve. E o médico, independente da sua nacionalidade, sem amparo técnico na sua retaguarda, pode fazer muito pouco. Como da discussão nasce a razão, acredito que alguma coisa vai melhorar. Aguardemos.

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