Foi num “puteiro” em João Pessoa que os Raimundos descobriram que a vida era boa. Um dos primeiros sucessos da banda de Brasília, “Puteiro em João Pessoa (Roda Viva)”, se tornou um marco na carreira do grupo – e fez a fama do bar, localizado na entrada da capital paraibana, às margens da BR-230.
— Vamos entrar no ‘puteiro’ mais famoso do Brasil — bradava o baterista Caio Cunha na tarde de quinta-feira (21), quando ele e Marquim (guitarra), mais os dois integrantes originais, Canisso (baixo) e Digão (guitarra e voz), foram fazer uma visita ao Roda Viva, na passagem da banda por João Pessoa.
Mais de duas décadas anos depois de a canção estourar, os Raimundos entraram pela primeira vez no bar, hoje chamado Efectos, uma “casa de shows eróticos”.
— A gente já esteve aqui, até mesmo com a MTV, mas ficamos do lado de fora. Nunca entramos — atesta Digão.
Naquele feriado, a casa abriu mais cedo para a comitiva ilustre. Poucos funcionários davam início à limpeza do local que, dali à pouco, ao cair da noite, começaria a receber strippers, clientes e curiosos em geral.
— Vem muita gente aqui por conta da música —, confirma o proprietário do bar, o catarinense Edson Rogério de Arruda. — Já recebi de grupos de motociclistas até turistas europeus querendo conhecer o famoso ‘puteiro’ de João Pessoa.
Aproximadamente 25 anos separam o Roda Viva onde Rodolfo foi “inaugurado” para o de hoje, o Efectos. “Está tudo diferente”, comenta o “primo velho e cancrado” Antônio Bessanger, que ciceroneou a atual formação dos Raimundos nesta visita ao estabelecimento.
— Não havia esse muro. Era só o dancing (que está lá, reformado) e umas mesas de pedra no meio do mato — descreve Bessanger. Hoje, as mesas de pedra deram lugar às de madeira e o palco, espelhado, ostenta um pole dance. Uma pequena jukebox completa o cenário.
O muro separa a casa de shows do motel Roda Viva, construído no final dos anos 1990. O proprietário ficou com o motel e arrendou o bar para Edson Rogério, que comanda o lugar há aproximadamente 13 anos.
LETRA PORNÔ
Narrada em primeira pessoa, “Puteiro em João Pessoa” revela, com riqueza de detalhes, como o ex-vocalista Rodolfo Abrantes perdeu a virgindade. Desde 2001 fora do grupo, quando passou a se dedicar à carreira gospel e à pregação evangélica, Rodolfo não fala mais sobre suas estripulias junto ao Raimundos.
— É tudo verdade ali, menos os apelidos que ele colocou em mim —, ressalta Bessanger (grafado Berssange no encarte do CD), primo em segundo grau do vocalista, sobre a letra.
A canção, uma espécie de encontro entre os Ramones e os repentistas da Feira de São Cristóvão, parte do momento em que “dois primos já marmanjos”, o “muito justo” Augusto (radicado em Brasília) e o “safado” Bessanger arrastam o jovem Dudu (Rodolfo) de uma festa em família até o Roda Viva, e segue até a hora em que “rolinha come alpiste”.
— O nome dela era Fátima, mas a gente apelidou de Catherine Deneuve —, entrega Bessanger sobre a prostituta responsável por mostrar ao ex-vocalista como “a vida é boa”. — Era uma brincadeira nossa, dos primos, colocar nome de atrizes nas moças. Tinha a Maria Schneider, a Romy Schneider…
Lançada no homônimo disco de estreia, “Raimundos” (1994), a ideia de “Puteiro em João Pessoa” surgiu quando a banda se reencontrou em 1992. De acordo com Digão, foi composta por ele e Rodolfo debaixo de uma cachoeira, na fazenda do atual vocalista, em Brasília.
— Nesse dia saiu também o refrão de “Cintura fina” — revela Digão.
POLITICAMENTE INCORRETA
— “Puteiro em João Pessoa” está sempre nos shows. Antes a gente colocava no final, para deixar a galera na expectativa. Hoje é a música que abre o repertório — comenta Canisso.
— Se a gente não tocar no começo, “neguinho” fica o show inteiro pedindo: “Puteiro!, Puteiro!” — acrescenta Digão.