“Rapadura é doce, mas não é mole, não”. Esse dito popular que surgiu provavelmente na antiguidade e passando por várias gerações e épocas permanece atual.
Já a rapadura densa e doce é renegada, incompreendida, considerada rude. Deixou de ser produzida por muitos engenhos, mas ainda resiste no nordeste do Brasil, e em poucas regiões do sul e sudeste. Mesmo que seu processo de produção artesanal seja mais barato que o do açúcar e seus nutrientes muito mais ricos.
Assim como o tempo que atravessa épocas deixando suas marcas e histórias, também são as pessoas e seus legados.
Estamos vivendo tempos difíceis. E se a expressão popular ‘rapadura é doce, mas não é mole, possui significado metafórico de que nada é fácil, certamente sua aplicação neste momento se faz extremamente necessária.
O país vive nos últimos dias desassistido em todos os aspectos, exceto mordomias. Para muitos a farra com o dinheiro público é rotina. A exploração dos mais vulneráveis é espantosa. A compra e venda de cargos e negociatas é assustadora. O puxa-saquismo nunca esteve tão evidente. Regredimos aos anos 80, com uma diferença: hoje, a informação chega rápido.
Os preços de tudo aquilo que é essencial para a sobrevivência dispararam. Tudo está ‘aos olhos da cara’, mas enquanto a grande massa se aperta do jeito que pode para sobreviver, a classe política se abastece em gastos desnecessários. A propósito, você gosta de leite condensado, ou prefere rapadura?
Virou notícia o ‘carrinho de compras’ do governo federal. De sagu a chicletes os gastos são volumosos e embora a sociedade esteja com a ‘corda no pescoço’, parte dela ainda aplaude essa situação. Nesse grupo estão os que são pagos exatamente para aplaudir, outros fazem isso por falta de caráter ou desinformação.
É preocupante a falta de consciência cidadã e é muito importante compreender como os gastos de uma família difere dos gastos do governo.
A diferença de um governo para uma família é que suas receitas são auferidas de maneira coercitiva, sendo confiscada de todos aqueles trabalhadores assalariados e empreendedores que atuam no setor produtivo da economia.
Neste sentido, um aumento dos gastos do governo significa, de maneira muito simples, que o governo ou aumentará os impostos para fazer frente a esses novos gastos ou irá se endividar ainda mais.
A renda de uma família que não tem reajuste em seu salário há tempos, não acompanha o poder de compra, uma vez que os preços dispararam e isso obriga a família a ‘cortar gastos’ para ajustar o seu modo de vida.
Na outra ponta estão as famílias que não têm salários, porque não conseguem trabalho e são simplesmente empurradas ao empobrecimento. Em um país que não têm um programa de governo para assitir essas pessoas, a miséria é certa.
Assim como os ditos populares se perpetuam, também é a nossa sociedade que poderá se manter decadente se não vislumbrar o conhecimento como meio para modificar esse cenário que no momento é desolador.
(Ivan Alexandrino)