Por Zizo Mamede
Há uma crise generalizada na sociedade brasileira, para além da crise na democracia representativa e na crise econômica. Aqui a crise é múltipla e de complexa compreensão. Lendo e ouvindo fontes alternativas à mídia hodierna, acessamos as mais variadas leituras que fazem do momento crítico por que passa o Brasil nesta primeira quadra do milênio.
A explicação mais simples, cínica e simplória é a que a grande mídia e os partidos de oposição ao governo federal sacam cotidianamente para tentar derrubar o governo eleito: o problema do Brasil é a corrupção do PT. Tirando o PT do governo, extinguindo o PT e botando Lula na cadeia o problema estaria resolvido.
O economista brasileiro Márcio Pochman, aponta que uma das razões do mal estar na sociedade brasileira estaria no fato do país ter se tornado mais competitivo após a ascensão social de milhões de pessoas. Mesmo todos os extratos sociais tendo avançado economicamente nos governos do PT, os pobres avançaram mais e passaram a exercer uma inédita pressão de baixo para cima, incomodando e assustando as classes superiores.
O célebre sociólogo polonês Zigmunt Baurman afirma que a recente distribuição de renda no Brasil empoderou pessoas que agora querem poder cada vez mais. Mas, os milhões de pessoas que subiram para os andares de cima do edifício social por meio da “escada” oferecida pelo Estado, repetem aqui o mesmo fenômeno de outros países: acham que ascenderam socialmente exclusivamente por mérito pessoal e agora querem tirar a tal escada para outros não subam na vida.
O psicanalista esloveno Slajov Zizek contribui para o entendimento do fenômeno do ódio ao Partido dos Trabalhadores ao fazer uma análise dos vários medos difusos na sociedade e da simplificação de todos os medos, reduzindo-os a um único medo, do PT. Os vários temores, da violência, das doenças, do desemprego, da crise, assombram as pessoas, que para resolvê-los simplificam: elegem um bode expiatório.
Mino Carta, da Carta Capital, lá com seus botões bate renitentemente na tecla da permanência da cultura arraigada no país da dicotomia e da circularidade casa grande-senzala. As elites e a classe média abastada nunca assimilam mudanças que ameacem o status quo e reagem às políticas que distribuem renda e oportunidades de estudo, de saúde, de moradia, de cidadania para amplos setores antes alijados de tais direitos.
Silvio Caccia Bava do Le Monde Diplomatique destaca dois grandes motivos para a crise política e econômica do Brasil. A intervenção da presidenta Dilma Roussef na política de juros da taxa Selic e a redução do spread dos bancos do Estado brasileiro, barateando o crédito, tomando clientes dos bancos privados e reduzindo seus lucros. Ao reduzir os juros da economia a presidenta teria afrontado também os detentores dos títulos da dívida pública interna que passaram a receber menos pelos juros que o próprio governo lhes paga.
Outra força da crise política e econômica está na crise porque passam os tradicionais meios de comunicação de massa, principalmente as grandes empresas de TV, jornais e revistas semanais, que perdem cada vez espaços no mercado para a internet. Os grandes conglomerados de mídia perderam bocados significativos dos orçamentos de publicidade dos governos e querem a todo custo retomar seus espaços nas tetas dos governos.
Na superfície dos acontecimentos críticos está a política mais visível. A incapacidade da presidenta Dilma Roussef de reagir de forma convincente para responder aos problemas da economia. A composição do Congresso Nacional, com ampla maioria de parlamentares da elite econômica, o mais reacionário entre os eleitos nesta chamada Nova República. A irresponsabilidade dos candidatos derrotados nas últimas eleições, Aécio Neves, Marina Silva e dos seus aliados em não reconhecerem a derrota nas urnas.
Os exageros e seletividade política do juiz da Operação Lava-Jato e de setores do Ministério Público – com seus lances de pura pirotecnia, distanciando-se da serenidade que deve ter a Justiça – para além do necessário combate à corrupção, aguça a crise política porque lançam suspeitas sobre todos os políticos e ao mesmo tempo contribui com a crise econômica ao paralisar as maiores construtoras do país, provocando um encadeamento de desemprego que gera mais desemprego.
Num ato falho e crise de sinceridade, o jornalista Ricardo Noblat, funcionário da Globo, teria twitado que os políticos que querem derrubar Dilma Rousseff estão correndo contra o tempo para botar o vice-presidente Michel Temer no comando da República. Assim paralisariam a Operação Lava Jato e se livrariam de iminentes prisões.
Para além de todas as facetas da crise e do novelo em que se enrola o Brasil, uma se revela por maldade ou ignorância: Comparar a campanha das Diretas Já na década de 1980, em plena Ditadura com as manifestações de 2015 e 2016 para derrubar a presidenta eleita democraticamente, sem apontar as diferenças das motivações. Querem reescrever a história trocando dos sinais para enganar os tolos.
Em tempo: De tanto plantarem crise, Aécio, Alkmin e outras figuras golpistas começaram a perder o controle da agenda negativa para Bolsonaro, Malafaia e fascistas ainda mais à direita. Tucanos escorraçados na Avenida Paulista. Homofóbicos, racistas e machistas ovacionados.
Vamos resistir!