Na terça-feira (13) um crime bárbaro ocorrido no interior do estado chocou os paraibanos e ganhou destaque nacional. Um menino de cinco anos foi assassinado, teve o corpo aberto e órgãos cortados em pedaços em um ritual de magia negra, no município de Sumé (Cariri paraibano, a 264 km de João Pessoa). Segundo a polícia, a mãe e o padrasto da criança participaram do ritual, que teria sido conduzido por um suposto pai de santo. Uma semana após o crime, o Portal ouviu representantes do candomblé e eles foram taxativos: o suspeito não pode ser considerado membro de nenhuma religião de matriz africana.
“Nenhuma religião de matriz africana faz esse tipo de ritual. Nós cultuamos o respeito à natureza. Somos conhecidos como pais e mães de santo, mas na verdade somos zeladores. Então, como poderíamos fazer mal àqueles que nos procuram? Àqueles que devemos zelar? É inaceitável e desrespeitoso que esse homem seja considerado da nossa religião. Ele não é. Ele não nos representa de forma alguma”, defende a iyalorixá Tuca.
A opinião também é compartilhada pelo babalorixá Gilberto. Ele é sacerdote há mais de 30 anos e um dos organizadores da festa de Yemanjá, o evento candomblé de maior tradição em João Pessoa.
“Posso garantir que não existe sacrifício humano dentro do candomblé. Desconheço essa prática e esse homem não pode ser chamado de pai de santo. O candomblé não realiza rituais visando o mal das pessoas”, garante o líder religioso.
O babalorixá Léo também não concorda que o suspeito e o fato tenham relação com religiões africanas. “O comportamento do suspeito mostra que ele não tem nenhum conhecimento sobre orixás e cultura africana, não tem cultura religiosa. Uma pessoa que faz isso contra uma criança não tem alma, cultura e espiritualidade. Não tenho nem palavras para classificar uma pessoa dessa”.
Umbanda
Segundo o babalorixá Léo e a iyalorixá Tuca, o ritual macabro que vitimou a criança em Sumé também não pode ser confundido com práticas da umbanda. De acordo com os líderes religiosos, a umbanda é uma religião “ainda mais pura que o candomblé” e jamais permitiria qualquer tipo de agressão contra seres humanos.
Preconceito
Os três representantes do candomblé ouvidos consideram que a forma como o caso foi tratado contribui para o preconceito contra adeptos de religiões de matriz africana.
Eles destacam que a maioria das pessoas têm pouco conhecimento sobre o candomblé e a umbanda e acabam acreditando em mitos que envolvem essas religiões.
Portal Correio