A renda renascença exige habilidade e muita paciência – a confecção de algumas peças pode durar meses. No entanto, essa mistura de arte e terapia não tem surtido efeito para conter a ansiedade das rendeiras do Cariri paraibano em ver suas peças na “São Paulo Fashion Week”, neste domingo (8), às 21h.
A primeira-dama do Estado e presidente de Honra do Programa do Artesanato da Paraíba (PAP), Ana Maria Lins, acompanhou bem de perto todo esse processo e fala do momento vivido pelas rendeiras com emoção. “Nós, que apoiamos o Programa do Artesanato da Paraíba, estamos muito orgulhosas pela visibilidade que a nossa arte tem alcançado. Iremos vivenciar um momento de muita emoção no próximo domingo, quando o trabalho de nossas rendeiras será apresentado ao Brasil e ao mundo na 25ª edição da São Paulo Fashion Week”, disse.
“Ganhar as passarelas da moda, em um dos maiores eventos internacionais do segmento, é a prova de que estamos no caminho certo, de que todo o esforço da equipe do PAP e, principalmente, dos nossos artesãos e artesãs tem valido a pena, porque sonhamos muito por esse momento”, prosseguiu Ana Maria Lins, agradecendo ao estilista Ronaldo Fraga a parceria com o Governo do Estado.
O desfile, que homenageia o centenário de nascimento da estilista Zuzu Angel, é mais um fruto de um conjunto de ações do Governo do Estado na valorização da renda renascença, tipologia símbolo do Cariri paraibano.
Graças a essa parceria entre o Sebrae, associações de rendeiras e prefeituras municipais, o renomado estilista Ronaldo Fraga esteve durante uma semana, ano passado, em Monteiro, e nos dias 29 e 30 de outubro deste ano dando consultoria às rendeiras caririzeiras, cujo resultado foi a coleção #SomosTodosParaíba, inspirada na obra do artista plástico Flávio Tavares.
Em janeiro deste ano, a coleção #SomosTodosParaíba ganhou a passarela no Espaço Cultural José Lins do Rêgo, em João Pessoa. Agora as peças da coleção ganham a passarela da “São Paulo Fashion Week”, desta vez inspiradas também nos pássaros do artesão Bento Medeiros, do município de Sumé.
“Desde que assumiu, o governador João Azevêdo, que tinha na mãe uma exímia artesã, não tem medido esforços na valorização do artesanato como um todo. Mas a renda renascença precisava dessa dose de estímulo, cujos resultados têm sido para lá de satisfatórios”, destaca a gestora do Programa do Artesanato da Paraíba (PAP), Marielza Rodriguez. “Estar na ‘São Paulo Fashion Week’ significa colher frutos agora, mas também a longo prazo”, acrescenta.
A gerente regional do Sebrae no Cariri, Madalena Arruda, também ressaltou o grande momento para a renda renascença. “Essa edição não vai celebrar apenas os 25 anos da ‘São Paulo Fashion Week’. Serão novos tempos para a renda renascença, que vai ser mostrada para o mundo”, disse.
Na região do Cariri paraibano, existem mais de 4 mil artesãos – a maior parte formada por mulheres – que trabalham com a renda renascença. Mesmo com uma forte tradição, a tipologia estava enfrentando uma série de dificuldades. Foi neste momento que entraram os incentivos do Governo do Estado, um dos principais anseios das rendeiras.
Ao todo, cinco municípios do Cariri paraibano integram o circuito da renda renascença no Estado: Zabelê, São Sebastião de Umbuzeiro, São João do Tigre, Camalaú e Monteiro.
Gratidão e emoção – Marlene Leopoldino trabalha com a renda renascença há mais de 20 anos. De uma família na qual todas as mulheres são rendeiras, Marlene acredita que estar na “São Paulo Fashion Week” será uma grande janela de oportunidades. “O sentimento é de gratidão, emoção, felicidade por estar divulgando e mostrando todo o nosso trabalho, o talento que temos em uma passarela que é para o mundo”, diz. “Agradeço ao Governo do Estado, Sebrae e as prefeituras que trouxeram Ronaldo Fraga para desenvolver essa coleção conosco”, acrescenta.
Gestora da Associação das Rendeiras de Renda Nascença do município de Camalaú (Ascamp), a rendeira Maria Marli Faria de Araújo não tem dúvidas dos resultados positivos que a participação delas na “São Paulo Fashion Week” vai deixar. “Sem dúvida nenhuma a participação do PAP, do Governo do Estado, junto às associações, ao Sebrae trará resultados muito positivos para todos. A vinda de Ronaldo Fraga nos proporcionou um profundo conhecimento sobre a renda renascença”, destaca.
A rendeira Maria Aparecida Silva Souza, de Zabelê, ressalta que o sentimento é de gratidão. “Comecei a trabalhar com a renda renascença desde os sete anos. Hoje tenho 55 anos de idade e, para mim, é muito gratificante ver as peças da renda renascença serem mostradas para o mundo.
#SomosTodosParaíba – As peças da coleção #SomosTodosParaíba sobem na passarela da “São Paulo Fashion Week” neste domingo (8), às 21h. O desfile do estilista Ronaldo Fraga tem como tema “Zuzu Vive” e homenageia o centenário de nascimento da estilista, a primeira a usar o artesanato em um desfile.
Considerado o maior evento de moda do Brasil e o mais importante da América Latina, a edição de 25 anos do “São Paulo Fashion Week” será totalmente virtual, transmitida nas redes sociais e no canal do evento, no YouTube, e em projeções em prédios da capital paulista.
Origem – Durante a consultoria, as rendeiras aprenderam com Ronaldo Fraga mais sobre a arte que passa de geração em geração, e que dominam há muito tempo.
Em uma pesquisa para uma antiga coleção, o renomado estilista descobriu que a renda renascença nasceu em Florença, na Itália. As meninas aprendiam a arte da renda renascença aos 5 anos para produzir o enxoval que seria usado aos 13 anos, quando chegasse o casamento.
Já a chegada da renda renascença em Pernambuco e depois à Paraíba ocorreu no fim do século XIX. A família de uma família muito rica de Burano, ilha localizada perto de Veneza, se apaixonou pelo filho de um adversário político do pai. A jovem veio para Olinda, onde ficou confinada até morrer, aos 92 anos.