REZAI POR FIRMINO, FIRMINO MORREU…

Por Ramalho Leite

A Igreja de Nossa Senhora do Livramento só tinha uma torre, do lado direito.Para entronizar um relógio que pudesse ser visto por toda a cidade de Bananeiras, era necessário uma segunda, do lado esquerdo, por onde se derramava a urbe, descendo a ladeira,conforme registra o gaucho Luiz Antonio da Silva Nunes, em 1860, primeiro governador a visitar o nosso interior. Wilson Seixas destaca que a cidade crescia subindo uma ladeira. A torre foi construída e nela implantada um relógio cuja trilha musical acordava a cidade até bem pouco tempo, quando a era digital afogou a saudade e matou a homenagem a Firmino.

Iveraldo Lucena eternizou em livro a letra daquela musiquinha saída da verve popular: “Rezai por Firmino/ Firmino morreu/O relógio da torre/foi ele que deu”. Mas a minha curiosidade é descobrir quem foi esse Firmino, cantado em verso inesquecível, mas sem registro de patente, sobrenome ou origem. Há tempos que vasculho os escritos de vários historiadores, a começar por Maurílio Almeida passado por Humberto Nóbrega até Manoel Luiz da Silva e chegando a Tancredo de Carvalho. Nas “Memórias de um Brejeiro”, o primeiro prefeito de Solânea refere-se a uma pessoa muito querida na cidade, “João FIRMINO de Miranda Pontes, plantador de fumo, produto que vendia transformado em corda”. Era um homem rico, mas dificilmente seria esse o Firmino que procuro. Sendo do distrito de Moreno (Solânea), àquele tempo já com a rivalidade aguçada entre as duas comunidades, seria “excomungado”, caso doasse um relógio para a igreja da cidade sede, apesar da relação filial entre elas existente.

Maurílio Almeida conta que certa feita, o comendador Felinto Rocha caminhava na Rua do Comercio, em Bananeiras, quando foi abordado pelo padre encarregado da construção da Igreja Matriz, em busca de donativos para a obra que se arrastava, pois o governo já confessara a falta de verba para essa edificação. O coronel assinou a lista e surpreendeu o padre: doara um conto de réis. Ao seu lado, seu primo FIRMINO Florentino seguiu os demais subscritores e passou duzentos mil réis ao cofre da Paróquia. Este sim, deve ser o FIRMINO que procuro, dizimista permanente da Freguesia, de família tradicional e responsabilidade social com o desenvolvimento municipal.

Firmino Florentino da Rocha tinha posses, e seu nome aparece no inventário do irmão Joaquim Claudiano, o Quicó, a quem vendera uma propriedade em Santa Cruz, no Rio Grande do Norte. O Quicó viria a ser o pai de dona Dondon, avó de Clovis Bezerra, que faleceu depois de completar um centenário de nascimento. Firmino era filho de José Ferreira da Rocha, o coronel Camporra, casado com Ana Joaquim de Melo que também foram os pais de Ana Pautila da Rocha que veio a se casar com o primeiro estrangeiro a residir em Bananeiras, segundo Humberto Nóbrega, o português Tomas de Aquino Costa de Andrade. Desse casal, nasceria Maria Eugênia, que, casada com Francisco Bezerra Cavalcanti, teria uma única filha, Azeneth Bezerra de Aragão. Esta chegou aos 96 anos, é mãe de Marta, minha com panheira há 54 anos. Comecei na torre da igreja e terminei chegando em casa. O Firmino que doou o relógio da Matriz é, sem duvida, tio-avô de Marta que, como prefeita da cidade mudou a sua história e o seu norte, seguindo a tradição familiar e se inscrevendo entre os benfeitores da “cidade mais charmosa da Paraíba”.

Deixe seu comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode gostar