SALÃO DO ARTESANATO: oportunidade para os novatos, vitrine para os veteranos

Na 23ª edição do Salão de Artesanato da Paraíba, no Espaço Cultural José Lins do Rego, em João Pessoa, todos ganham: o turismo, o Estado, o artesanato e os artesãos. As vendas superaram a melhor das expectativas: quase R$ 1 milhão e mais de 42 mil peças comercializadas. Faltando ainda quatro dias até o fim do evento, incluindo um fim de semana – dias de maior movimento – esta edição promete ser mais que um sucesso.

O Salão deste ano está para todos os gostos: comércio, beleza, cultura e diversão. Porém, o artesanato e os artesãos estão em primeiro lugar. Alguns trabalham há décadas, outros são iniciantes. Uns expõem pela primeira vez, outros são veteranos no Salão.
Esta edição conta com 60 novos artesãos. Mesmo alguns sendo profissionais há algum tempo, esses novatos nunca expuseram peças no Salão de Artesanato da Paraíba.

Um veterano é João dos Ramos, artesão e multiartista, também toca instrumentos, canta e, nesta edição, além de expor seu trabalho em madeira, fez uma apresentação de voz e violão. Ramos trabalha com artesanato utilizando madeira e entalhes há cerca de 20 anos. Faz parte do Programa de Artesanato da Paraíba (PAP) e está gostando desta edição, acreditando que o Salão está cada vez melhor.

Maria Anunciada Pereira é uma novata no Salão de Artesanato edição João Pessoa e também do PAP. De Mari, interior da Paraíba, ela é a única desta edição expondo trabalhos que utilizam chifre e osso de boi. Ela combina técnicas de macramê, material de couro de bode e também coco, formando peças únicas. “Estou adorando o Salão. As vendas estão ótimas. O evento, as palestras, tudo é novo para mim. É um aprendizado”, disse. A artesã explica que a maioria das suas peças é única, pois não se pode reproduzir certos formatos e cores dos chifres, que são lixados e envoltos em cera de carnaúba para a finalização. “Tudo feito utilizando material natural”, afirma Maria Anunciada.

A artesã que trabalha com crochê, Lenilse Ferreira, é outra novata. Apesar de fazer peças em crochê há 40 anos, nunca tinha exposto seu trabalho. “Eu nunca tinha tido a oportunidade de mostrar meu trabalho. Agora que surgiu, estou gostando muito”, explicou. Sobre seu trabalho, ela comenta: “Eu faço tudo em crochê, mas o que eu mais me identifico é fazer vestido, especialmente vestidos mais sofisticados. A minha praia são esses vestidos “complicados” e estou pensando em me especializar nessa área. Vi que por aqui não tem e a procura é grande por essas peças”. Lenilse Ferreira é filha de alfaiate e sempre esteve cercada por moda e roupas, de onde tira sua inspiração, além de suas pesquisas na internet e em revistas. “Achei o Salão muito organizado. Mesmo sendo artesanato, podemos ver sofisticação nas peças. Agora que expus meu trabalho e vi que as pessoas gostaram, me apaixonei por isso”, relatou.

Jubemar Sabino é outro novato. Não só no Salão, mas é um artesão que trabalha com madeira há somente um ano. “Começou como um hobby, até porque tenho outra profissão, sou enfermeiro. Mas já me identificava com esse trabalho. As pessoas foram gostando, me incentivando e eu fui partindo para o lado profissional”, explicou. O lado artesão aflorou após ganhar o primeiro lugar no concurso de presépio da Usina Cultural Energisa, no final de 2015. Ele explica que seu forte é reproduzir animais e está achando excelente divulgar seu trabalho, já em tão pouco tempo. “Para mim, é uma felicidade estar aqui mostrando meu trabalho. As vendas superaram minhas expectativas.

Tenho poucas peças no estoque, pois é demorado para produzir, mas tenho muitas encomendas. Agora escolhi ser artesão. Minha outra formação vai ficar um pouco de lado, porque gosto desse trabalho aqui”, afirmou Jubemar.

Algodão colorido – A tipologia homenageada deste ano está exposta em objetos diversificados – de roupas a bonecas, de bolsas a redes. O artesanato é caracterizado pelo trabalho manual, utilizando-se de matéria-prima natural, ou produção de um artesão. Mas com a mecanização da indústria, o artesão passou a ser identificado como aquele que produz objetos pertencentes à chamada cultura popular. É o que faz Valdina de França, cuja especialidade são bonecas e souvenirs – a exemplo de chaveiros e bolsinhas – e utilizando o algodão colorido, que ela usa em seu artesanato já há 11 anos.

Mas há o chamado industrianato, um misto de produto industrial com o artesanato. É o caso de algumas peças de roupas e calçados expostos no Salão utilizando-se de algodão colorido. “Começamos a trabalhar com algodão colorido há 12 anos. Resolvemos entrar de cabeça e hoje quase 100% da nossa produção é de algodão colorido natural. Fazemos aplicação de peças de artesanato nas confecções, como crochê. É o que chamamos de industrianato, uma indústria que se utiliza de material de artesanato e assim, podemos utilizar valor agregado, unir várias empresas e até exportar nossa produção”, explicou Napoleão Nunes, um dos expositores da área de algodão colorido, que trabalha com confecção de roupas.

Outro expositor da tipologia colorido é Hélio Gomes, que é de João Pessoa, mas cuja fábrica fica no sertão da Paraíba, em São Bento, conhecida como a terra das redes. E é justamente nisso que trabalha o artesão: redes, tapetes e mantas. “Quase toda a cidade de São Bento é voltada para o artesanato e várias partes da confecção das redes consistem de trabalho manual”, explicou Hélio, que já expõe no Salão há dez anos.

Inspiração quixotesca – Um dos maiores ícones da literatura espanhola e mundial, Dom Quixote, é uma das principais inspirações de João de Deus, conhecido artesão paraibano que trabalha com metal. João é artesão há 23 anos e, por ter sido mecânico, aproveitava as peças de metal da sua oficina para transformar em materiais de artesanato. “Exponho no Salão desde a primeira edição e foi aqui que o nosso artesanato deu uma alavancada.
O Salão é uma vitrine para os artesãos. Aqui, divulgamos nosso trabalho, ganhamos com vendas e fazemos diversos contatos. Esta edição está ótima. Está bem localizada e as vendas estão muito boas”, explicou João de Deus. Sobre seu trabalho, ele comenta: “Tenho peças retratando São Jorge, Dom Quixote, Sancho Pança, trabalhos que retratam nosso Nordeste, além de peças utilitárias. Sempre estou lendo um livro e os personagens surgem daí, é bom para abrir a mente”, comentou o artesão.

Ações e números – Até o dia 25 de janeiro, as vendas totais da 23ª edição do Salão de Artesanato da Paraíba eram de R$ 907.752,75. As peças vendidas somavam 42.688. A média diária de vendas estava em R$ 82 mil, com público de mais de 8 mil visitantes diariamente. Entre as tipologias mais vendidas estavam: fios, habilidade manual, algodão colorido, madeira e gastronomia. Seguidas de couro, cerâmica e pedras. “Avalio isto como uma coisa incrível. Num período tido como crise, nosso artesanato vem provar que não há crise dentro do Salão de Artesanato. Isso é fruto de produtos muito bem elaborados, de trabalho de equipes e organização muito competentes, incluindo divulgação e infraestrutura”, explicou Lu Maia, gestora do Programa de Artesanato da Paraíba (PAP).

Durante a semana, além da exposição, o PAP não para. Houve palestras e a apresentação do projeto Moda PAP para os artesãos, com o estilista Romero Sousa. Além disso, há a programação cultural do Salão. Já teve teatro infantil, MPB, emboladores, saxofonista, repentistas e muito forró. A quarta-feira (27) foi fechada com apresentação do Baixinho do Pandeiro, tocando samba e forró pé-de-serra. “Vou mostrar aos convidados o forró pé-de-serra da Paraíba, além de samba e xote. Estou achando o Salão muito bonito e bem aparelhado, gente chegando a cada instante. Quero ver todo esse pessoal dançando no palco”, disse o músico antes da apresentação.

O Salão de Artesanato da Paraíba segue até domingo (31), no Espaço Cultural, em João Pessoa, das 14h às 21h.

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