Seis pessoas foram presas na manhã desta sexta-feira (12) na segunda etapa da Operação Gabarito, que desarticulou um grupo criminoso suspeito de fraudar pelo menos 60 concursos públicos desde 2005, informou o superintendente da Polícia Civil da Paraíba, delegado Marcos Paulo Vilela. A primeira etapa da operação foi deflagrada no domingo (7), com a prisão de 19 pessoas.
O superintendente não divulgou detalhes sobre as seis prisões e informou que os dados oficiais relacionados a esta etapa da operação só devem ser divulgados na segunda-feira (15). Na terça-feira (9), o delegado de defraudações e falsificações de João Pessoa, Lucas Sá, responsável pela operação, tinha informado que além dos 19 presos, outras 21 pessoas estavam sendo investigadas pela polícia suspeitas de participar do esquema.
Entre as pessoas presas nesta sexta-feira está a funcionária da Prefeitura Municipal de Santa Rita Dayane Nascimento, apontada pela Polícia Civil como sendo companheira de um dos irmãos suspeitos de chefiar o grupo criminoso, e irmã de Diogo Nascimento, agente do Departamento Estadual de Trânsito da Paraíba (Detran-PB) que morreu após ser atropelado durante uma blitz da operação ‘Lei Seca’ em janeiro.
Segundo o advogado de Dayane, Eduardo Luna, a prisão é temporária e a defesa vai reunir informações para saber o motivo da prisão para poder entrar com um pedido de revogação. “Vamos nos inteirar do inquérito policial para verificar quais foram os indícios que ligaram a figura dela a essa operação”, disse Luna.
Além de Dayane, também foi preso nesta sexta o servidor do Detran-PB Diones Leite. Segundo o advogado do suspeito, Iarley Maia, o funcionário público nega participação no esquema. “A única coisa que existe é que ele conhece uma das pessoas envolvidas, mas isso não quer dizer que ele fez nada ilegal”, disse o advogado. A defesa de Diones Leite vai pedir a revogação da prisão temporária. A assessoria de imprensa do Detran-PB confirmou a prisão do funcionário e disse que vai apurar os fatos para que as medidas cabíveis possam ser tomadas.
O concurso do Detran-PB, realizado em 2013, está na lista dos 60 concursos que teriam sido fraudados pelo grupo, segundo a polícia. O assessor jurídico do órgão, José Serpa, informou que o Detran vai esperar a finalização do inquérito policial e que caso a fraude na aprovação de candidatos seja comprovada, as medidas cabíveis vão ser tomadas para o afastamento dos envolvidos.
Como o esquema fraudava concursos
As fraudes começaram em 2005, e mais de 500 pessoas já foram beneficiadas com o esquema em concursos na Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Rio Grande do Norte, Sergipe e Piauí. O valor pago pelas pessoas para o grupo já acumulava pelo menos R$ 18 milhões. A audiência de custódia dos 19 presos no domingo aconteceu na segunda-feira (8) em João Pessoa e a Justiça manteve a prisão dos suspeitos. A polícia investiga a participação de pelo menos outras 21 pessoa no esquema.
O esquema funcionava por meio de escutas e transmissões eletrônicas durante a aplicação das provas. Parte dos suspeitos ficavam na casa onde os líderes do grupo foram presos, em João Pessoa, e eram responsáveis por receber as informações das provas de outros integrantes do grupo que faziam as provas. “Eles repassavam as informações para os ‘professores’, que respondiam as questões e mandavam os gabaritos para os candidatos”, explica Lucas Sá.
Segundo o delegado, os “clientes” do grupo eram contatados principalmente em cursinhos e por meio redes sociais. “São muitas as maneiras, mas as principais são pelo Facebook, WhatsApp e indicação de pessoas de cursinhos. Vários desses professores [presos] são professores de cursinho. Então eles acabam indicando a organização para os alunos desses cursos e fazendo a proposta de ingressar no esquema fraudulento”, disse o delegado.