A agricultora Geanne da Silva Campelo, de 29 anos, mora em Solânea, no Agreste paraibano. Há pouco mais de um mês, ainda gestante, descobriu que Geovanna, nascida no final de março deste ano, apresentava um quadro clínico de microcefalia. Precisou passar a ter um acompanhamento em um dos hospitais de referência, o Instituto Cândida Vargas (ICV), em João Pessoa. Pela distância de onde mora até o hospital, a agricultora precisaria percorrer mais de 144 Km periodicamente, mas uma iniciativa pioneira da medicina paraibana fez com que o trajeto diminuísse para 38 Km.
Ao invés de continuar viajando para João Pessoa, onde deu à luz a Geovana, Geanne só vai precisar viajar até Guarabira para continuar tendo o acompanhamento especializado, uma viagem de cerca de 20 minutos. Por meio de videoconferência, os médicos da unidade especializada em tratar os casos de crianças com microcefalia na capital paraibana vão poder acompanhar o atendimento de rotina à agricultora e sua filha.
O método, conhecido como telemedicina, utilizado normalmente para tratamento de doenças do coração, foi adaptado pelo hospitais públicos paraibanos para facilitar na detecção e acompanhamento de bebês com microcefalia. A coordenadora da Unidade Neonatal do ICV, Juliana Soares, afirmou que a adaptação do sistema para atendimento dos casos de microcefalia é pioneiro do Brasil.
Para Geanne Campelo, foi a alternativa perfeita para continuar tendo o acompanhamento que é referência no estado. “O atendimento aqui [no ICV] tem sido muito bem feito. Mesmo tendo um carro à disposição, dado pela prefeitura da minha cidade para me trazer para João Pessoa, gasto mais de duas horas para sair de lá. Não queria perder o apoio do pessoal daqui”, comentou a agricultora, aproveitando para acrescentar que o caso de Geovana é o primeiro registrado em Solânea.
Juliana Soares explica que é um método que permite não só ao médico estar perto, mesmo estando longe, mas, principalmente o parecer de vários médicos, especialistas em área diferentes sobre um mesmo caso. “Temos todas as maternidades paraibanas interligadas. Então quando uma mãe leva o bebê para receber atendimento em Guarabira, os demais médicos acompanham pela tela o procedimento, podendo se comunicar tanto com o médico que faz o atendimento, quanto com os demais. Isso permite até um diagnóstico mais completo”, explicou.
Até o final do mês de março, 30 mães e seus bebês com quadro de microcefalia recebiam atendimento no Cândida Vargas, em João Pessoa. Na Paraíba, até o último dia 5, 103 casos de microcefalia já tinham sido confirmados e mais386 seguiam em investigação. A coordenadora da Unidade Neonatal do ICV comentou que o trabalho dos médicos que lidam diretamente com o surto de microcefalia é imediatista, se limitando a reduzir as consequências.
Para tanto, os centros de acompanhamento dos bebês com a doença trabalham em parceria com a Fundação Centro Integrado de Apoio à Pessoa com Deficiência (Funad), na Paraíba, onde as crianças que apresentam a microcefalia podem receber tratamento com fonoaudiólogos e fisioterapeutas. “A partir do resultado do tratamento na Funad, conseguimos traçar o tamanho do dano da microcefalia”, concluiu Juliana Soares.