Nesta quarta-feira (1º) faz exatamente uma semana que o mundo foi informado sobre o surgimento de uma variante do coronavírus potencialmente mais transmissível, a Ômicron. Identificada na África do Sul, a cepa já está presente em pelo menos 18 países, incluindo o Brasil. Apesar de ter sido classificada como uma variante de preocupação pela Organização Mundial da Saúde (OMS) por ter um conjunto de mutações nunca antes observadas, não há indicativos até o momento de que a nova cepa seja mais letal.
A Ômicron já foi detectada em todos os continentes, mas não há até o momento confirmação de mortes associadas à nova variante. O cenário é um pouco diferente do ocorrido na Índia no começo do ano, quando a variante Delta provocou uma explosão de casos e mortes, ainda antes do início da vacinação em massa.
Na África do Sul, 76% dos novos casos de Covid-19 já são causados pela variante Ômicron. No entanto, o aumento de infecções não tem se refletido em crescimento significativo de internações e óbitos. O boletim dessa terça-feira (30) do Instituto Nacional de Doenças Transmissíveis do país apontava apenas 21 mortes por Covid-19 em 24 horas e 119 hospitalizações.
Pesquisadores tentam entender se o vírus causador da Covid-19 tende a seguir o mesmo caminho do H1N1, que tinha uma agressividade maior quando surgiu e hoje causa sintomas muito semelhantes aos de outros vírus influenza, e com uma mortalidade menor.
Em entrevista recente ao jornal sul-africano Daily Maverick, o professor Salim Abdool Karim, diretor do Centro para o Programa de Pesquisa da Aids na África do Sul, ressaltou que “não há bandeiras vermelhas” que mostrem que a Ômicron provoque casos mais graves do que outras cepas, como a Delta, que já é dominante no mundo. Ele salientou que na província de Gauteng, onde fica a capital do país, Pretória, houve um aumento significativo do número de novos casos no momento em que foi identificada a cepa Ômicron. Todavia, 87% das novas internações por Covid-19, independentemente da variante, em hospitais daquela localidade eram de pessoas não vacinadas. A África do Sul tem apenas 24% da população completamente imunizada.
Nessa terça-feira, o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, admitiu que neste momento há “mais perguntas do que respostas sobre o efeito do Ômicron na transmissão, gravidade da doença e eficácia dos testes, terapêuticas e vacinas”.
A OMS, em conjunto com desenvolvedores de vacinas, aguarda resultados de testes que vão mostrar nas próximas semanas se a variante é capaz de escapar da imunidade conferida pelos imunizantes usados hoje no mundo.
A médica Angelique Coetzee, que tratou alguns dos primeiros pacientes infectados pela variante Ômicron na África do Sul, afirmou à agência de notícias AFP que todos apresentavam sintomas leves. A maioria era composta de homens com menos de 40 anos. Quase metade havia sido vacinada. Além de apresentarem enorme fadiga, eles sofriam de dores musculares, tosse seca ou ‘coceira na garganta’, acrescentou. Apenas alguns poucos também tiveram febre baixa.
Em 18 de novembro, Coetzee alertou as autoridades sanitárias para este “quadro clínico que não coincide com o da [variante] Delta”, até agora a predominante na África do Sul. A médica não se surpreendeu, pois o quadro já estava sendo estudado. Dias depois, em 25 de novembro, pesquisadores sul-africanos anunciaram que haviam identificado a variante B.1.1.529, chamada no dia seguinte de Ômicron pela OMS.
O Brasil confirmou nesta terça-feira os dois primeiros casos de Covid-19 em pacientes infectados com a nova variante. Trata-se de um casal que havia retornado de viagem à África do Sul e realizou o teste no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, onde desembarcou, no último dia 25. Eles não haviam sido vacinados e apresentaram sintomas leves. Os dois estão em isolamento doméstico.