A prefeitura de Monteiro, através da Secretaria de Cultura e Turismo do Município, realiza a 12ª Edição do Festival Zabé da Loca, nos dias 23, 24 e 25 de março e que este ano homenageia o cantor e compositor monteirense Adriano Silva.
Dentro da programação especialmente preparada para a 12ª Edição do Festival, serão realizadas Oficinas de Pífano para alunos da rede pública de ensino, apresentações culturais na feira livre com artistas locais e convidados, além de shows com artistas consagrados da música popular regional.
ZABÉ DA LOCA – A RAINHA DO PÍFANO
Natural de Buíque, município do agreste pernambucano, Isabel Marques da Silva, conhecida como Zabé da Loca, nasceu em janeiro de 1922. Ainda adolescente passou a morar em Monteiro, no Cariri paraibano. Na infância conviveu com fome, sede e doenças, razão pela qual dos seus quinze irmãos oito vieram a falecer. Analfabeta, aos sete anos de idade aprendeu a tocar pífano com Aristides, um dos irmãos sobreviventes.
Era uma mulher de aparência física frágil, com 1 metro e meio de altura. Possuía olhos azuis, mas um rosto marcado pelo estafante trabalho ao sol na zona rural. “Eu sou filha de mocó”, dizia em gargalhadas, debochando das dificuldades da própria vida. Quando jovem sofreu assédio de fazendeiros, chegando a engravidar, tornando-se mãe de uma menina. Delmiro, com quem passou a viver maritalmente, foi pai de dois dos seus filhos.
Vivendo em estado de extrema pobreza, ao ver sua casa desmoronada, se viu obrigada a morar com a família sob duas pedras na Serra do Tungão, permanecendo lá por 25 anos. Daí nascendo o apelido de “Zabé da Loca”.
Seu talento com o pífano só passou a ser conhecido em 2003, quando descoberta por estudantes do Programa de Bibliotecas Rurais Arca das Letras, do Projeto Dom Helder Câmara, no então Ministério do Desenvolvimento Agrário.
Foi quando gravou seu primeiro CD chamado Canto do Semi-Árido, que contou com a produção e assessoria do grupo Quinteto Violado e participação dos seguintes amigos tocadores: o sobrinho Beiçola (pífano), o filho Setenta (caixa), o compadre Mestre Levino (prato) e o vizinho Pinto (zabumba). Na festa de seu lançamento, em Afogados de Ingazeira, no sertão do Pajeú pernambucano, contou com a presença do então Ministro da Cultura, Gilberto Gil. No ano seguinte apresentou-se no Fórum Cultural Mundial, em São Paulo, ao lado do artista Hermeto Pascoal.
Nessa época saiu da gruta para morar em uma casa no assentamento Santa Catarina, município de Monteiro, transformada em um memorial, a Associação Cultural Zabé da Loca. A gruta onde viveu por 25 anos é atualmente ponto de atração turística e de preservação cultural.
Gravou três álbuns e recebeu o prêmio de Revelação da Música Popular Brasileira na 22a edição do evento, dividindo o palco com Lenine e Chico César, além de emprestar seu nome artístico para um festival de cultura popular de Monteiro, que em 2011 reuniu no mesmo palco a própria Zabé e as Ceguinhas de Campina Grande, outras figuras paraibanas famosas. Foi condecorada com a Ordem do Mérito Cultural, do Ministério da Cultura, e eleita ‘Revelação da Música Brasileira’ no Prêmio de Música Brasileira.
Apontada como a “rainha do pife”, Zabé da Loca serve de inspiração em discos de nomes como o percussionista argentino Ramiro Mussoto e o grupo paraibano Cabruêra. Acompanhada de seu pífano, ela atraía o público pela propriedade com que executava o instrumento.
Faleceu aos 93 anos de idade, de morte natural, após anos convalescendo com síndrome de Alzheimer. Pifeira e compositora, Zabé da Loca conseguiu se inserir no universo masculinizado das bandas de pífano do Cariri paraibano. Foi a primeira homenageada no Festival Paraibano da MPB promovido pela Empresa Paraibana de Comunicação/Radio Tabajara. É, sem dúvidas, Patrimônio Cultural da Paraíba.